domingo, 29 de maio de 2016

ENCICLOPÉDIAS ALEGRES (11) - BRUXAS


MÃOS. Por norma, quem possuir uma cruz na linha da palma das mãos, não precisa antídotos para se livrar de bruxedos. Se não possuir o sinal, com os dedos indicador e médio poderá fazer uma figa. O efeito será o mesmo.
Os malefícios são feitos com a mão esquerda, uma vez que todo o cristão se benze com a mão direita.
MAU-OLHADO. As pretensas vítimas de mau-olhado não deixam de apontar o dedo acusador à pessoa de olhar vidrado que lhe causou as doenças na família ou nos animais de estimação. Esta teoria conseguiu levar muita gente à fogueira no séc. XVI, após choverem as acusações sobre quem supostamente foi causador de moléstias.
Os olhos de cores diferentes, encovados ou juntos, estrabismo ou outros efeitos visuais constituíam sinais das pessoas que lançavam o mau-olhado, por vezes fruto de invejas ou vinganças.
Saibam que aquele olho pintado em cada um dos lados da proa dos barcos de pesca tem como finalidade a protecção contra este malefício. Como protecção em terra, os pescadores socorrem-se de um raminho de salva ou um dente de alho.
MEIAS. Uma meia calçada do avesso é talismã suficiente para livrar o seu portador das maldades das bruxas. Podem livrar dos malefícios, mas não livram da chacota.
METAMORFOSES. Conta-se que uma bruxa transformava-se em gato preto e ia beber o leite às vasilhas dos leiteiros. Certo dia, um dos produtores resolveu fazer uma espera ao gato, da qual resultou dar-lhe uma paulada numa das patas da frente. No dia seguinte, uma vizinha velha andava com um braço ao peito.
Não confundir com bruxo a sogra do vizinho malandreco, mesmo quando este a (des) trata por bruxa; principalmente quando a sogra é uma boa pessoa – e santa, ainda por cima!
MOEDAS. Acredita-se que haverá um ano novo de boa conta bancária se forem jogadas moedas de fora para dentro de casa; à cautela, previna-se a quebra acidental de vidros, cujos seguros se escusam a cobrir o prejuízo, o que é prenúncio contrário à crença.
MOVIMENTAÇÃO. Sabe-se que as bruxas se movimentam por via aérea, quando estão em serviço naturalmente, e raramente o fazem pelo chão. Como são indetectáveis nos meros radares da aviação civil (como acontece com as vacas voadoras da Geringonça), andam à vontade, não chocam com os aviões e não precisam de aeroporto, nem mesmo o de Beja, que parece estar às moscas, as únicas que ainda ali vão aterrando.
NAO. Sigla despropositada para ser tratada neste trabalho, não fosse o caso de titular um assunto também ele abrangido por bruxaria, como é o Novo Acordo Ortográfico.
Embruxadas terão sido todas as regras de escrita que mudam com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, o famigerado AO de 1990, face ao Acordo de 1945, havendo pois quem teime na antiga proposição e quem alinhe pela nova que, para ser mais democrática, é imposta. E que eu, como é fácil verificar, não respeito, enquanto não distinguir o que é conveniente do que é “brasiliente”, ou seja, perceber até que ponto as regras da alteração respeitam o falar do povo português e não a botânica dos interesses editoriais, mais próprias de um acordo “hortográfico”.
Para alguns escritores e jornalistas portugueses, a obrigatoriedade de passarem a utilizar o NAO (Novo Acordo Ortográfico), é como dar uma costeleta de porco preto a um vegetariano... E obrigá-lo a comê-la.
No meu caso, o calhamaço do NAO serviu às mil maravilhas para calço de uma cristaleira, paralítica de uma das pernas, a qual rejeito entregar à carrinha dos monstros recicláveis com a mesma ênfase com que não me convenço a escrever como se impõe no arrazoado introdutório.
NOITE. Segundo uma crença beirã, confirmada por um estudo levado a cabo pelos especialistas da OCDE em mais de 40 países, as bruxas andam de noite invisíveis e a “petiscar lume”.
Aí está uma pista: “petiscam lume”. Este predicado levou-as a alguns conflitos, em meados do século passado com os empedernidos fiscais dos isqueiros, principalmente atentos aos de fabrico espanhol, de pederneira.
Este costume de trabalho nocturno é uma carga extra para as coitadas, na maioria com actividades diurnas, à guisa de segundo emprego, o que não lhes permite muito repouso. A vida não está fácil para ninguém. Será um "case study" para a ala mais à sinistra da Geringonça, a qual não vejo propor legislação sobre esta actividade.
Para que o trabalho das bruxinhas não fique desprovido de poesia, o seu poder reforça-se em noites de lua cheia. 

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