sábado, 17 de dezembro de 2011

Profetas e Profecias

Bandarra, o “obscuro mesteiral” nasceu três anos antes de Nostradamus. Ambos perseguidos pela Inquisição, não puderam declarar abertamente (como convém a todo o profeta que se preze) os factos e as eras dos acontecimentos. Isto faz que não sejam, por vezes, claras as premonições escritas pelos dois profetas, assumindo uma característica hiperbólica, recheada de metáforas e de citações bíblicas.
Se “ninguém é profeta na sua terra”, Bandarra contrariou o rifão. Profecia é – segundo o conceito enciclopédico – o conhecimento sobrenatural e a predição infalível de acontecimentos futuros naturalmente imprevisíveis. A própria Bíblia tem os seus profetas, que são dezasseis: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel, os maiores; Oseias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Nahum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias, os menores.
Para o padre António Vieira, a rusticidade de Bandarra numa vila de interior, justificava-se pela intervenção divina – “se levantou Deus de entre as mulheres uma Doutora que foi Santa Teresa, de entre os Soldados um Apóstolo que foi Santo Inácio” também Deus podia escolher “de entre os rústicos um profeta que foi o Bandarra”
É ainda Vieira, para quem a figura de Bandarra merece respeito, que afirma sobre os profetas – “Isto que nos Poetas é hipérbole, no Profeta é verdade pura, e certa sem encarecimento
E quanto aos outros profetas portugueses?
Em 1541, a Inquisição condenou Luís Dias, alfaiate de Setúbal “por se fazer Messias em Setúbal”. Em 1582, era condenado, por falsas profecias, Afonso dito O Adivinhão. Dois anos depois, cabia igual condenação a um tal Pedro Afonso. Em 1638, deste anátema não escapou João Lopes dito O Idiota.
Latino Coelho define desta guisa os profetas: “primeiro adivinham vagamente, depois afirmam com ousadia... A princípio profetas, depois mártires, finalmente semideuses”.
Juntaram-se outras figuras menores, porquanto populares, como o caso do Pretinho do Japão, um profeta do séc. XIX, que baseava as suas profecias nas de Bandarra. A este veio juntar-se o vate Pimentel, tendo saído a lume um livro com a data de 1849, impresso na Tipografia de E. J. da C. Sanches, cujo título é bastante sugestivo: Profecias profetizadas pelo Pretinho de Japão, e por Gonçalo Annes de Bandarra./ Augmentadas com as verdadeiras profecias do Vate Pimentel, profetisando os grandes acontecimentos que tem accontecido em differentes nações, desde 1847, até ao presente; e de feturo até o anno de 1856.



Neste tempo em que Portugal se vive das dificuldades de um País que foi mal governado, e se remenda com esbulhos e parciais formas de tributar, é bom que se leia nos profetas o destino que Fernando Pessoa viu nas trovas do Bandarra.
Bandarra disse:
Também sou oficial,
Sei um pouco de cortiça.
Não vejo fazer justiça
A todo o mundo em geral.

Que agora a cada qual
Sem letras fazem Doutores,
Vejo muitos julgadores
Que não sabem bem, nem mal.

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